Valores que os Estudantes de Psicologia Consideram Necessários para Serem Felizes

Autores

  • Nelson Pedro-Silva Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Departamento de Psicologia Social e Educacional.
  • Marcos Henriques Freiria Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação.

DOI:

https://doi.org/10.17921/2447-8733.2018v19n4p444-450

Resumo

Este artigo analisa os valores que os universitários, segundo seus próprios pares, consideram importantes para serem felizes. Participaram da pesquisa 161 estudantes do 1º ano de Psicologia de uma Universidade pública do interior paulista, de ambos os sexos, com idade entre 17 e 21 anos. Os resultados informaram que: a) os sujeitos consideram que o mais importante para ser feliz se relaciona à amizade (52,8%), à riqueza (18,0%) e à saúde física e psíquica (11,2%), isto é, aspectos mais afeitos à dimensão ética e às formas de glória; b) os sujeitos praticamente não mencionaram a esfera pública, manifestando certa visão individualista e ingênua, já que é impossível a concretização destes valores, sem considerar os públicos; c) quanto à amizade, os sujeitos a consideram como uma forma de se adaptar a uma nova realidade, distante dos familiares e/ou por associar o seu estabelecimento com a felicidade; d) a intenção de ter amigos se refere à demanda por ter as mesmas gratificações obtidas na família, como a de apoio emocional, assim, a amizade pretendida não está calcada na reciprocidade, pois o outro é visto apenas como meio para viabilizar a satisfação de interesses pessoais; e) no tocante à saúde, os sujeitos argumentaram que ela é condição vital para se obter a felicidade; f) de maneira semelhante, manifestaram justificativas quanto à riqueza, isto é, embora não seja condição suficiente, é necessária para concretizar os desejos que podem torná-los felizes. Foi possível concluir que fatores materiais (riqueza) e ligados ao estabelecimento de relações interpessoais são os aspectos julgados necessários para se alcançar a felicidade.

 

Palavras-chave: Felicidade. Universitários. Valores.

Abstract

This article analyzes the values that university students, according to their own peers, consider important to be happy. The subjects of the research were 161 undergraduates of both sexes, aged 17 to 21 years, of the first year of the psychology major of a public university in the interior of Sao Paulo state. Results indicated that: (a) the subjects consider that the most important to be happy is friendship (52.8%), wealth (18.0%), and physical and mental health (11.2%), that is, aspects more related to the ethical dimension and forms of glory; (b) most subjects did not mention the public sphere, and thus manifested a certain individualistic and naive view, since it is impossible to achieve these values without considering the public ones; (c) as for friendship, the subjects consider it a way to adapt to a new reality, far from their families,  and/or associate its establishment with happiness; (d) the intention to have friends refers to a demand for the same gratification obtained in their families, such as emotional support, and thus the desired friendship is not grounded in reciprocity, because the other is seen only as a means to enable the satisfaction of personal interests; (e) regarding  health, the subjects argued that it is a vital condition to obtain happiness; (f) as for wealth, they expressed similar justifications, that is, although wealth is not sufficient, it is necessary to achieve the desires that can make them happy. It was possible to conclude that material factors (wealth) and factors linked to the establishment of interpersonal relationships are the ones deemed necessary for happiness.

 

Keywords: Happiness; university students; values.

 

Biografia do Autor

Nelson Pedro-Silva, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Departamento de Psicologia Social e Educacional.

Professor Doutor do Departamento de Psicologia Social e Educacional da Faculdade de Ciências e Letras de Assis - UNESP. Autor de Ética, indisciplina & violência nas escolas. Especialista em Psicologia do Desenvolvimento Moral. Membro da Sociedade Brasileira Jean Piaget.

Marcos Henriques Freiria, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação.

Pedagogo, Estudante de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação (Psicologia da Educação) da Faculdade de Ciências e Filosofia de Marilia - UNESP.

Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

BORRERO, S. et al. Pobres e angustiados, mas felizes: moderadores situacionais e culturais da relação entre riqueza e felicidade. Estud. Gerenc., v.29, n.126, p.2-11, 2013.

BRUCKNER, P. A euforia perpétua: ensaios sobre o dever de felicidade. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

CAMARGO, S.P.H.; ABAID, J.L.W.; GIACOMONI, C.H. Do que eles precisam para serem felizes? A felicidade na visão de adolescentes. Psicol. Escolar Educ., v.15, n.2, p.241-250, 2011.

CAMPBELL, R.; CRISTOPHER, J.C.C. Moral development theory: a critique of its kantian presuppositions. Developmental Rev. v.16, n.1, p.1-47, 1996.

CARVALHO, E.A. Prefácio. In: COSTA, J.F. Psicanálise e moral. São Paulo: Educ, 1989. p.8-9.

COMTE-SPONVILLE, A. Petit traité grandes vertus. Paris: Presses Universitaires de France, 1995.

DELA COLETA, J.A.; DELA COLETA, M.F. Felicidade, bem-estar subjetivo e comportamento acadêmico de estudantes universitários. Psicol. Estud., v.11, n.3, p.533-539, 2006.

FERRAZ, R.B.; TAVARES, H.; ZILBERMAN, M.L. Felicidade: uma revisão. Rev. Psiquiatr. Clín., v. 34, n. 5, p.234-242, 2007.

FERRY, L. Famílias, amo vocês: política e vida privada na era da globalização. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

FLANAGAN, O. Psychologie morale et éthique. Paris: Puf, 1991.

FREIRE, T.; TAVARES, D. Influência da autoestima, da regulação emocional e do gênero no bem-estar subjetivo e psicológico de adolescentes. Rev. Psiquiatr. Clín., v.38, n.5, p.184-188, 2011. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832011000500003

GILLIGAN, C. In a different voice: psychological theory and women’s development. Cambridge: Harvard University Press, 1982.

JAPIASSU, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 1960.

KOHLBERG, L. Psicología del desarrollo moral. Bilbao: De. Desclée, 1992. p. 33-40.

LA TAILLE, Y. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, J.G. (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. p. 9-23.

LA TAILLE, Y. Para um estudo psicológico das virtudes. Educ. Pesq., v.26, n.2, p.109-121, 2000.

LA TAILLE, Y. Vergonha, a ferida moral. Petrópolis: Vozes, 2002a.

LA TAILLE, Y. O sentimento de vergonha e suas relações com a moralidade. Psicol. Reflex. Crít., v. 15, n. 1, p.13-25, 2002b.

LA TAILLE, Y. A escola e os valores: a ação do professor. In: LA TAILLE, Y. Indisciplina/disciplina. Porto Alegre: Mediação, 2005. p. 5-21.

LA TAILLE, Y. A importância da generosidade no início da gênese da moralidade na criança. Psicol. Reflex. Crít., v. 19, n. 1, p. 9-17, 2006.

LA TAILLE, Y. Desenvolvimento humano: contribuição da psicologia moral. Psicol. USP, v. 18, n. 1, p. 11-36, 2007.

LIMA, A.F.B.S.; FLECK, M.P.A. Qualidade de vida e depressão: uma revisão da literatura. Rev. Psiquiatr. Rio Gd. Sul, v.31, n.3, 2009. doi http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81082009000400002.

LUZIO, C.A. Encontros e desencontros com os mitos da Psicologia Clínica. São Paulo, 1989. 180f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1989.

MARANO, H. E. De olhos bem fechados. Folha de S. Paulo, p. 4, 20 fev. 2005.

MILLOT, C. Freud antipedagogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987.

MONTEIRO, S.; TAVARES, J.; PEREIRA, A. Adaptação portuguesa da escala de medida de manifestação de bem-estar psicológico com estudantes universitários - EMMBEP. Psicol., Saúde Doenças, v.13, n.1, p.66-77, 2012.

PASSARELI-CARRAZZONI, P.; SILVA, J.A. Bem-estar subjetivo: autoavaliação em estudantes universitários. Estud. Psicol., v.29, n.3, p.415-425, 2012. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2012000300011.

PERRON, R. Les représentations de soi. Toulouse: Privat, 1991.

PIAGET, J. Le jugement moral chez l’enfant. Paris: PUF, 1957.

PIAGET, J. (1964). Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1973.

SAMBIASE, M.F. et al. Confrontando estruturas de valores: um estudo comparativo entre PVQ-40 e PVQ-21. Psicol. Reflex. Crít., v.27, n.4, p.728-739, 2014. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1678-7153.201427413.

SENETT, R. O declínio do homem público. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

SILVA, N.P. Entre o ideal e o real. São Paulo: PUC, 1994.

SILVA, N.P. Valores priorizados por estudantes universitários de um curso de psicologia de uma universidade pública. Educ. Pesq., v.41, n.2, p.391-407, 2015. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022015041615.

TAYLOR, C. Sources of the self: the making of the modern identity. Cambridge: Harvard University Press, 1989.

TUGENDHAT, E. Lições sobre ética. Petrópolis: Vozes, 1996.

ZANATTA, E.A.; MOTTA, M.G.C. Violência, sob o olhar de jovens, na perspectiva da corporeidade e da vulnerabilidade. Texto Contexto Enferm., v. 24, n. 2, p. 476-485, 2015. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072015001302014.

Downloads

Publicado

2018-12-30

Como Citar

PEDRO-SILVA, N.; FREIRIA, M. H. Valores que os Estudantes de Psicologia Consideram Necessários para Serem Felizes. Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, [S. l.], v. 19, n. 4, p. 444–450, 2018. DOI: 10.17921/2447-8733.2018v19n4p444-450. Disponível em: https://revistaensinoeeducacao.pgsscogna.com.br/ensino/article/view/4053. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos